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Moda, consumo e autenticidade: estou criando meu estilo ou apenas copiando um padrão

  • Foto do escritor: Carlos Lidovinio
    Carlos Lidovinio
  • 17 de nov. de 2024
  • 5 min de leitura
Estou criando meu estilo ou apenas seguindo um padrão?
Moda Consumo e autenticidade

Hoje, qualquer pessoa pode entrar em uma loja de fast fashion, escolher o look do manequim e sair de lá se sentindo a pessoa mais estilosa do mundo.

Mas, será que um consumidor que apenas segue o que está exposto nas vitrines pode ser chamado de alguém com estilo? Ou, de fato, o que define o estilo é um entendimento mais profundo das tendências de moda e a capacidade de personalizar essas influências de acordo com a sua própria identidade?


Será que essa sensação de "estar na moda" é, de fato, o que caracteriza um verdadeiro estilo pessoal, já que essa pessoa adquiriu tal look já pronto? sem pensar, sem pesquisar, apenas olhou, serviu, comprou, como diria Hebe.


Neste artigo do EAD Fashion, vamos analisar essa questão e refletir sobre o que realmente define quem é ou não um verdadeiro fashionista, estiloso, ou como quiser chamar alguém que tem um forte estilo pessoal.


A linha tênue entre fashionista e consumidor de tendências

Para iniciarmos, é interessante entender a diferença crucial entre ter um estilo pessoal e ser apenas um consumidor de tendências. Muitos confundem essas duas coisas, mas elas não são sinônimos. Enquanto a pessoa que tem um estilo pessoal (estiloso/fashionista) se envolve profundamente com a moda, não só a consumindo, mas, a entendendo e personalizando as tendências ao seu favorecimento, o consumidor de tendências é aquele que compra o look pronto, sem refletir sobre o que ele realmente representa ou como ele pode se encaixar na sua identidade.


Para o sociólogo Pierre Bourdieu, em sua obra A Distinção, o consumo de moda não é apenas uma questão de adquirir itens de vestuário, mas também de afirmar o status social e cultural de um indivíduo, assim como se divide as roupas da realeza e as roupas da plebe.

Trajes usados em eras de realezas como divisão de classes
Trajes usados em eras de realezas como divisão de classes

Quando você compra apenas o que está em alta, você está consumindo uma tendência que foi criada por outros. Isso pode te dar a sensação de "pertencer", mas não faz de você um verdadeiro criador de estilo. Poxa :(

É fácil identificar uma personalidade apenas observando seu estilo
É fácil identificar uma personalidade apenas observando seu estilo


O papel da fast fashion na criação de consumidores de tendências

Quando você entra em uma loja de fast fashion e escolhe um look do manequim, você está se deixando levar por uma estratégia de marketing extremamente eficaz. As vitrines, os manequins e até os influencers que promovem looks montados, já pensados e curados, no sentido de curadoria, para serem consumidos. O que vemos, na realidade, é uma cultura de consumo rápido, onde o objetivo não é construir um estilo pessoal, mas, sim, seguir o fluxo das tendências de maneira prática e imediata.


Logo, aquilo que está vestindo, não é um estilo pessoal, e sim, o estilo de outra pessoa que você escolheu incorporar.


O marketing das fast fashions faz um trabalho primoroso ao transformar roupas em algo desejável, sem que o consumidor tenha tempo para refletir sobre o que realmente está comprando. O problema é que esse consumo rápido e superficial cria uma falsa sensação de estilo. A Rebecca Burdett, uma especialista em comportamento de consumo, afirma que muitas vezes as pessoas compram roupas para se "sentir parte de algo", mas sem considerar como isso reflete na sua identidade. O ato de consumir uma tendência não faz de alguém um fashionista estiloso, mas sim, apenas um seguidor das normas impostas pelo mercado.


A moda como ferramenta de expressão pessoal

Agora, podemos entender que a verdadeira essência do estilo pessoal (estiloso/fashionista) está na autenticidade. Um fashionista não compra apenas o que está na moda, ele reflete sobre o que cada peça representa e como ela pode ser incorporada ao seu estilo pessoal. A moda, para o verdadeiro fashionista, é uma forma de expressão pessoal. Ele não se deixa guiar cegamente pelas tendências, mas adapta o que está em alta para criar algo que é exclusivamente seu.


A psicóloga Virginia Postrel, em seu livro The Substance of Style, afirma que a moda é uma linguagem. Ela não serve apenas para cobrir o corpo, mas para comunicar quem você é.

Eu acrescento, que a moda também molda quem você quer que as pessoas pensem que você é.


Bourdieu já nos alertava para o fato de que, muitas vezes, as roupas que usamos não refletem nossa verdadeira identidade, mas sim nossa busca por status social. Esse ponto é crucial para entender a diferença entre ser fashionista e ser apenas um consumidor. O fashionista é aquele que tem consciência do que está vestindo e como isso reflete seu mundo interior. Já o consumidor de tendências se limita a seguir o que é imposto pelas vitrines e pelas campanhas publicitárias.


O estilo pessoal, portanto, usa a moda para criar uma identidade visual que é inconfundível e que expressa suas preferências e personalidade.


O estilo não é ditado pela vitrine!

Muitas vezes, a ideia de ser um fashionista é distorcida por uma falsa ideia de que basta vestir peças de grandes marcas ou seguir influenciadores. No entanto, os grandes nomes da moda, como Stacy London, que ficou conhecida pelo programa What Not to Wear (que seria como o nosso Esquadrão da Moda no Brasil), têm uma visão diferente: não é a peça que você veste que te torna estiloso, mas como você a usa. Yes.


O verdadeiro estiloso/fashionista tem o poder de transformar qualquer peça, seja de uma loja de luxo ou de fast fashion, em algo único. Isso é o que o diferencia do consumidor de tendências. O famoso “copião”.


Ao consumir uma tendência pronta, você está apenas seguindo uma regra estabelecida por outras pessoas. Mas, ao criar um estilo pessoal, você está se expressando, questionando as normas e, acima de tudo, se apropriando da moda de uma maneira que seja única e autêntica.


Como influenciadores e stylists influenciam a percepção de estilo

O marketing na moda é outro fator importante nesse debate. Influenciadores e celebridades, muitas vezes, são vistos como exemplos de estilo. No entanto, sabemos que muitos desses looks são montados por stylists profissionais que pensam, de forma estratégica, em como aquela imagem será percebida pelo público. Isso cria uma linha tênue entre ser um verdadeiro fashionista e ser um "produto de marketing", no qual o estilo é, na verdade, uma criação externa.


Você está apenas consumindo as tendências de moda ou está realmente criando um estilo que reflete quem você é?

Quando você compra o look do manequim, está escolhendo um estilo que não é seu.

Já parou para pensar nisso?


O que você precisa entender é simples: o verdadeiro estilo pessoal não é aquele que segue as regras da moda, mas aquele que as desafia e as recria, fazendo da moda uma extensão de si mesmo. Portanto, da próxima vez que você se perguntar se está sendo estiloso, pare e reflita sobre isso. Você está apenas consumindo as tendências ou está realmente criando um estilo que reflete quem você é?


Essa reflexão não é apenas para quem já se considera um estiloso/fashionista, mas também para aqueles que querem ir além do consumo de tendências. Seja mais do que um seguidor. Seja o criador do seu próprio estilo e faça da moda uma verdadeira forma de expressão pessoal. Afinal, ser fashionista é muito mais do que simplesmente se vestir bem, é sobre vestir sua autenticidade.


E, quando falamos de autenticidade, é muito importante saber que, por mais que algumas pessoas não percebam ou não reconheçam, todos nós temos um estilo pessoal. Esse estilo pode não agradar às massas ou corresponder ao que a sociedade vê como tendência ou fashionismo, mas é, sem dúvida, uma forma de expressão única.


O estilo de cada um é moldado por uma série de fatores pessoais: as vivências, a adolescência, as pessoas com quem convive, o ambiente de trabalho, os amigos, os ícones de estilo que segue, enfim, tudo isso contribui para a construção de um estilo pessoal, mesmo que ele não siga as regras tradicionais de moda ou o que está em alta.


O estilo pessoal é uma extensão da personalidade e, mesmo que não seja "pop" ou "tendência", ele é válido para quem o expressa, pois é o reflexo de sua identidade e do seu conforto consigo mesmo.


Até logo!




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